Por Miller Clementino Cruz*
Desde a adolescência, antes mesmo de entrar no ensino médio, ouço falar em Karl Marx e um pouco sobre sua ideologia por intermédio de um primo que é militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Já naquela época, eu não via no PT uma alternativa, de fato revolucionária. Ali não era o meu lugar, obviamente não tinha a clareza que tenho hoje do quanto o partido já se encontrava degenerado. Assim, via no Partido Comunista do Brasil (PC do B) uma alternativa política, de vanguarda, disposto a mudar o modelo econômico do País, a relação entre os homens, enfim, fazer a revolução socialista.
Com essa visão, ao completar meus dezesseis anos, tirei meu título de eleitor e no mesmo dia, filiei-me ao PC do B. Tinha grandes expectativas no internacionalismo e de que o partido propunha fazer a revolução mundial dos trabalhadores. Cheguei a participar de uma formação política sobre economia política básica em sua sede estadual. Mas nada além disso ao longo dos dois anos seguidos em que fiquei em suas fileiras, disposto a militar pelo partido.
Com o passar do tempo, percebi que sua política era fazer “revolução” através das urnas. Apostavam fortemente nas eleições, na democracia burguesa. Eu sempre discordei disso, pois na minha visão a revolução tem que ser feita por proletários, camponeses e oprimidos pelo capital, nas ruas em marcha reivindicando os seus direitos. Fazendo aquilo que o PC do B não se mostrava disposto a fazer: organizar as massas e ser a vanguarda desse processo, derrubar a democracia burguesa e construir a revolução socialista. A burguesia nunca entregará o poder de mãos beijadas, como o PC do B acredita.
O tempo passou, e sem reuniões frequentes na sede municipal do partido, fui me afastando. Foquei nos estudos para passar numa universidade pública e acabei me afastando definitivamente do partido. Com isso, fiquei completamente por fora de seus debates (se é que eles existiam).
Ao entrar no curso de Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2010, conheci a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), da qual desde logo me aproximei e fui participando de debates sobre educação, agroecologia, convivência com o semiárido, etc. Nesse mesmo ano, aconteceram protestos em várias universidades do Brasil. Suas reitorias foram tomadas pelos estudantes. A reivindicação era que não fosse aceito o ENEM/SISU como forma de ingressar no ensino superior, mas sim o livre acesso.
Entrei nessa mobilização. Fato que achei muito curioso foi que a União da Juventude Socialista / PC do B estava do lado da Reitoria e contra os estudantes, defendendo a nova forma ENEM/SISU. Naquele momento foi como se tivesse tomado um choque: não estava acreditando no que estava vendo. Desde então senti total repúdio à UJS. Eu vi que não poderia, em hipótese alguma, fazer parte de tal União. Outro episódio que me deixou, de vez, frustrado com o PC do B, foi o fato de Aldo Rebelo, presidente nacional do partido, ter sido o relator do Novo Código Florestal. Isso fez com que acabasse qualquer credibilidade que eu tinha com os “camaradas”.
Como estudante de Agronomia que sou, compromissado com o campesinato e povos tradicionais, e com o conhecimento adquirido, sabia muito bem o que o Novo Código Florestal representava. Vi que o partido estava indo contra o interesse dos pequenos agricultores e em defesa dos interesses dos grandes latifundiários do país, da bancada ruralista, do agronegócio, em suma: do capitalismo.
Ano passado aconteceu um das maiores greves da Educação dos últimos dez anos! Os estudantes, mais uma vez, ocuparam reitorias de diversas universidades públicas do país. A União Nacional dos Estudantes (UNE), que tem na sua presidência a UJS há mais de três décadas, se posicionou do lado do governo e, evidentemente, mais uma vez contra os interesses dos estudantes do país.
Nessa greve, os estudantes se organizaram no Comando Nacional de Greve dos Estudantes (CNGE) e a UNE o boicotou, indo negociar, paralelamente, com o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, numa clara tentativa de interromper a greve, desmobilizar os estudantes e desmoralizar a luta. A política ficava cada vez mais clara.
Mais recentemente, em junho, aconteceram mobilizações históricas de milhares de jovens pelo país, e mais uma vez a UNE/UJS ficou do lado do governo ao aplaudir a aprovação do vergonhoso Estatuto da Juventude, que prevê a restrição da meia-cultural a 40% dos ingressos dos eventos.
Há cerca de um ano, e mais frequentemente nos últimos seis meses, tive uma aproximação com o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Sendo período eleitoral, apoiei, embora sem poder votar (Zona Eleitoral pertencente à Guaiúba-CE), os candidatos do partido na capital alencarina. Compreendia que existiam grandes diferenças no trato das eleições burguesas do PCdoB para o PSTU, pois o último a compreende como mera tática, um momento onde a classe trabalhadora está mais disposta a ouvir e discutir política, um forte canal para o partido apresentar um programa revolucionário.
Participei de debates organizados na sede do partido e, cada dia que passa, vejo que o PSTU é comprometido com os trabalhadores e com a Revolução Mundial (aquilo que não via no PCdoB). Suas formações me fizeram ver que essa é a alternativa revolucionária para o Brasil, para a América Latina e para o Mundo.
Debates e atividades como: Revolução Internacional; Primavera Árabe; Polêmica com o Chavismo; Gênero; Lançamentos da Revista Correio Internacional; Acesso, leitura e discussão sobre o Jornal Opinião Socialista; Cines-debate; Mobilizações de rua; Marchas; Atos; Além de conversas com a militância do partido. Tudo isso me deu um instrumental mais “afiado” para analisar melhor a realidade.
Mais recentemente, desvinculei-me da UFC e matriculei-me na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) por causa da sua proposta de formar Engenheiros Agrônomos para trabalhar com a agricultura familiar e de base ecológica. Compreendo bem as limitações que irão surgir numa nova universidade que é fruto de um programa de desestruturação da educação, o REUNI. Mas, me coloco como estudante dessa instituição na tentativa de fazer valer o que o curso se propõe a ser e na dura tarefa de construir o Movimento Estudantil, organizando as lutas necessárias.
Os apontamentos para agora são claros. Através desta carta formalizo a minha desfiliação do PCdoB pelos motivos já expostos, entre outros. E anuncio minha filiação ao PSTU.
Sempre na luta,
*Estudante de Agronomia na UNILAB
**Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil-FEAB.