Nosso novo blog será lançado em: (Tempo Fantasia)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Carta pública de saída do PCdoB


Por Miller Clementino Cruz*

     Desde a adolescência, antes mesmo de entrar no ensino médio, ouço falar em Karl Marx e um pouco sobre sua ideologia por intermédio de um primo que é militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Já naquela época, eu não via no PT uma alternativa, de fato revolucionária. Ali não era o meu lugar, obviamente não tinha a clareza que tenho hoje do quanto o partido já se encontrava degenerado. Assim, via no Partido Comunista do Brasil (PC do B) uma alternativa política, de vanguarda, disposto a mudar o modelo econômico do País, a relação entre os homens, enfim, fazer a revolução socialista. 
     Com essa visão, ao completar meus dezesseis anos, tirei meu título de eleitor e no mesmo dia, filiei-me ao PC do B. Tinha grandes expectativas no internacionalismo e de que o partido propunha fazer a revolução mundial dos trabalhadores. Cheguei a participar de uma formação política sobre economia política básica em sua sede estadual. Mas nada além disso ao longo dos dois anos seguidos em que fiquei em suas fileiras, disposto a militar pelo partido. 
     Com o passar do tempo, percebi que sua política era fazer “revolução” através das urnas. Apostavam fortemente nas eleições, na democracia burguesa. Eu sempre discordei disso, pois na minha visão a revolução tem que ser feita por proletários, camponeses e oprimidos pelo capital, nas ruas em marcha reivindicando os seus direitos. Fazendo aquilo que o PC do B não se mostrava disposto a fazer: organizar as massas e ser a vanguarda desse processo, derrubar a democracia burguesa e construir a revolução socialista. A burguesia nunca entregará o poder de mãos beijadas, como o PC do B acredita. 
     O tempo passou, e sem reuniões frequentes na sede municipal do partido, fui me afastando. Foquei nos estudos para passar numa universidade pública e acabei me afastando definitivamente do partido. Com isso, fiquei completamente por fora de seus debates (se é que eles existiam).
     Ao entrar no curso de Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2010, conheci a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), da qual desde logo me aproximei e fui participando de debates sobre educação, agroecologia, convivência com o semiárido, etc. Nesse mesmo ano, aconteceram protestos em várias universidades do Brasil. Suas reitorias foram tomadas pelos estudantes. A reivindicação era que não fosse aceito o ENEM/SISU como forma de ingressar no ensino superior, mas sim o livre acesso. 
     Entrei nessa mobilização. Fato que achei muito curioso foi que a União da Juventude Socialista / PC do B estava do lado da Reitoria e contra os estudantes, defendendo a nova forma ENEM/SISU. Naquele momento foi como se tivesse tomado um choque: não estava acreditando no que estava vendo. Desde então senti total repúdio à UJS. Eu vi que não poderia, em hipótese alguma, fazer parte de tal União. Outro episódio que me deixou, de vez, frustrado com o PC do B, foi o fato de Aldo Rebelo, presidente nacional do partido, ter sido o relator do Novo Código Florestal. Isso fez com que acabasse qualquer credibilidade que eu tinha com os “camaradas”. 
     Como estudante de Agronomia que sou, compromissado com o campesinato e povos tradicionais, e com o conhecimento adquirido, sabia muito bem o que o Novo Código Florestal representava. Vi que o partido estava indo contra o interesse dos pequenos agricultores e em defesa dos interesses dos grandes latifundiários do país, da bancada ruralista, do agronegócio, em suma: do capitalismo. 
     Ano passado aconteceu um das maiores greves da Educação dos últimos dez anos! Os estudantes, mais uma vez, ocuparam reitorias de diversas universidades públicas do país. A União Nacional dos Estudantes (UNE), que tem na sua presidência a UJS há mais de três décadas, se posicionou do lado do governo e, evidentemente, mais uma vez contra os interesses dos estudantes do país. 
     Nessa greve, os estudantes se organizaram no Comando Nacional de Greve dos Estudantes (CNGE) e a UNE o boicotou, indo negociar, paralelamente, com o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, numa clara tentativa de interromper a greve, desmobilizar os estudantes e desmoralizar a luta. A política ficava cada vez mais clara. 
     Mais recentemente, em junho, aconteceram mobilizações históricas de milhares de jovens pelo país, e mais uma vez a UNE/UJS ficou do lado do governo ao aplaudir a aprovação do vergonhoso Estatuto da Juventude, que prevê a restrição da meia-cultural a 40% dos ingressos dos eventos. 
     Há cerca de um ano, e mais frequentemente nos últimos seis meses, tive uma aproximação com o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Sendo período eleitoral, apoiei, embora sem poder votar (Zona Eleitoral pertencente à Guaiúba-CE), os candidatos do partido na capital alencarina. Compreendia que existiam grandes diferenças no trato das eleições burguesas do PCdoB para o PSTU, pois o último a compreende como mera tática, um momento onde a classe trabalhadora está mais disposta a ouvir e discutir política, um forte canal para o partido apresentar um programa revolucionário.  
     Participei de debates organizados na sede do partido e, cada dia que passa, vejo que o PSTU é comprometido com os trabalhadores e com a Revolução Mundial (aquilo que não via no PCdoB). Suas formações me fizeram ver que essa é a alternativa revolucionária para o Brasil, para a América Latina e para o Mundo. 
     Debates e atividades como: Revolução Internacional; Primavera Árabe; Polêmica com o Chavismo; Gênero; Lançamentos da Revista Correio Internacional; Acesso, leitura e discussão sobre o Jornal Opinião Socialista; Cines-debate; Mobilizações de rua; Marchas; Atos; Além de conversas com a militância do partido. Tudo isso me deu um instrumental mais “afiado” para analisar melhor a realidade. 
     Mais recentemente, desvinculei-me da UFC e matriculei-me na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) por causa da sua proposta de formar Engenheiros Agrônomos para trabalhar com a agricultura familiar e de base ecológica. Compreendo bem as limitações que irão surgir numa nova universidade que é fruto de um programa de desestruturação da educação, o REUNI. Mas, me coloco como estudante dessa instituição na tentativa de fazer valer o que o curso se propõe a ser e na dura tarefa de construir o Movimento Estudantil, organizando as lutas necessárias. 
     Os apontamentos para agora são claros. Através desta carta formalizo a minha desfiliação do PCdoB pelos motivos já expostos, entre outros. E anuncio minha filiação ao PSTU. 

     Sempre na luta,

*Estudante de Agronomia na UNILAB
**Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil-FEAB.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sem ilusões nos governos, mais uma vez a juventude sai às ruas!

Guilherme Barbosa, da juventude de Fortaleza

     Depois do vitorioso 30 de agosto em Fortaleza, em que milhares de trabalhadores cruzaram os braços, o dia 7 também foi marcado por mobilizações dos trabalhadores e juventude da cidade. Além do tradicional Grito do Excluídos (na sua 19ª edição), outro ato aconteceu na cidade, este majoritariamente da juventude e que trouxe às ruas mais uma vez o ímpeto, ousadia e criatividade típicos dos jovens. Provou-se, mais uma vez, que as jornadas de junho não foram o fim da indignação dos brasileiros, mas na verdade apenas o começo e que a juventude continuará na rua até ter suas reivindicações atendidas, seja com repressão ou não.

Juventude na rua por mais saúde, educação e qualidade no transporte
     Seguindo a lista de reivindicações que estão em todas as mobilizações desde junho, a OP7 ("Operação Sete de Setembro", como foi chamado o ato) não foi diferente e tinha como pautas regionais a diminuição do preço da passagem de ônibus, o passe livre para estudantes, mais verba pra saúde e educação, a legalização do parque do Cocó e desmilitarização da polícia.
     Todas essas pautas foram cantadas de forma irreverente pelos mais de 4 mil jovens que seguiram firmemente durante todo o percurso da mobilização. Puxada por uma bateria composta por militantes da ANEL e outros ativistas, as palavras de ordem eram as mais variadas como; “ Da copa eu abro mão, eu quero é dinheiro pra saúde e educação!”; “ Roberto Cláudio, pisou na bola, você cortou o meu pé de castanhola!” e “ o meu dinheiro não é capim, eu quero passe livre, sim!”.

As pautas convergiam a um só grito, pelo Fora Cid Gomes!
     Para os com curta memória, durante o mês de junho e julho a mídia bombardeou por meio dos seus canais que os manifestantes que estavam nas ruas "não tinham foco”, não sabiam contra quem lutavam e tampouco o que queriam.
     Mesmo isso já não sendo verdade no passado, nenhum canal sério se atreverá em dizer que os manifestantes que participaram do protesto do último sábado não sabiam o que queriam: todos os manifestantes tinham claro em suas mentes que suas pautas não estão na agenda dos políticos e que seus inimigos são todos os governos, desde o municipal de Roberto Cláudio até o nacional de Dilma Rousseff.
     Porém, o governo que mais provoca ódio hoje na juventude e na classe trabalhadora de Fortaleza é sem dúvida o de Cid Gomes: com o descaso com a população, os gastos absurdos em banquetes enquanto muitos passam fome; os 350 milhões para o aquário enquanto há seca no estado; e a forte repressão autorizada de forma covarde aos que estão participando desde o primeiro ato, faz com que a luta dos manifestantes passem diretamente pela luta pelo “Fora Cid Gomes”.

Forte repressão da polícia marca o ato do dia 7
     O motivo da luta pelo “Fora Cid Gomes” ganhou mais um elemento no último sábado: a desproporcionalidade do grupo policial que foi deslocado pra acompanhar o ato e a truculência e despreparo em suas ações foram criminosas e injustificáveis, e tudo isso devido à megalomania do Governador e a seu regime ditatorial.
     Já durante a concentração do ato, manifestantes foram detidos pela polícia, que seguiu a manifestação detendo manifestantes por toda a Beira Mar. Porém o pior aconteceu poucos metros após o ato passar pela Praça Portugal, e assim, sem motivo nenhum, a polícia começou a jogar bombas de efeito moral e atirar nas pessoas que estavam no ato.
     A cidade entrou em clima de guerra, e os policiais, que já haviam cercado todo ato, começaram a atirar pelas costas dos manifestantes. Muitos que estavam em sua primeira manifestação passaram mal devido às bombas, vários manifestantes se feriram e um deles foi atingindo de raspão no olho.
     A forma da ação policial foi absurda até para os padrões fortalezenses - jogar bomba pelo helicóptero parece brincadeira de criança perto do que os policiais fizeram na noite de sábado. Eles não só atiraram sem justificativa, como correram atrás dos manifestantes atirando! Eles não estavam interessados em “defender a ordem” ou qualquer coisa do tipo, mas apenas em dispersar o ato a qualquer custo, assim como em prender e ferir quantos manifestantes fosse possível.

A juventude continuará nas ruas!
     Mesmo com todas as ameaças e violência sofrida pelos manifestantes, o ato foi vitorioso, pois mais uma vez colocou milhares de jovens nas ruas, mais uma vez mostrou o quão despreparada é a polícia (e por isso a necessidade de um sério debate pela sua desmilitarização) e por fim, o quanto o governo Cid Gomes não representa a juventude e os trabalhadores de Fortaleza, daí a necessidade de cada vez mais lutarmos por melhorias no serviço público e pelo fora Cid Gomes.
     A juventude continuará nas ruas, porque sua disposição é grande e seu motivo é justo. Intimidações não nos farão recuar, avançaremos na luta até alcançarmos nossa vitória! Como fala uma tradicional palavra de ordem, talvez a mais bonita de todas: “Avança! Avança! Avança, juventude! A luta é o que muda, o resto só ilude!”. Sem ilusões no governo de Roberto Cláudio, Cid Gomes e Dilma Rousseff, só a luta muda vida, e por isso permaneceremos nela!

domingo, 8 de setembro de 2013

Fortaleza: um grito pelo fora Cid Gomes

Ato convocado pelo + Pão - Circo reuniu milhares de jovens
     No dia 7 de setembro, milhares de jovens e trabalhadores saíram às ruas de Fortaleza. Enganou-se quem achou que os protestos seriam para defender uma pauta conservadora e para reivindicar a volta dos militares. Ao contrario: as manifestações do “dia da independência” foram continuidade das jornadas juninas que exigiram centralmente dos governos educação, saúde, passe livre e melhores das condições nos transporte. 
     Dois atos aconteceram simultaneamente: o tradicional Grito dos Excluídos e outro ato organizado pela juventude.  Os dois atos tinham algo em comum: o Fora Cid Gomes. Os desmandos do Governador do Ceará estão gerando na população cearense uma forte indignação. Enquanto o Estado Nordestino sofre uma das piores secas da história e o governador gasta com lagosta, caviar e está construindo um aquário que custará R$ 350 milhões. Para atender os interesses dos empresários, o governador tem promovido milhares de remoções, expulsando a população de suas casas. 
     Como fez nos protestos durante a copa das confederações, o governador se escondeu e mandou a polícia massacrar os manifestantes. Cid Gomes não compareceu ao desfile oficial, mostrando fraqueza política e medo dos protestos. Além disso, ao enviar um contingente de policiais desproporcional ao número de manifestantes, premeditou uma agressão covarde contra jovens que exerciam o direito de protestar. Batalhão de Choque, Cavalaria, Polícia Rodoviária Estadual e o Ronda foram utilizados para reprimir e criar pânico entre jovens que na sua grande maioria estavam participando da primeira vez de um ato público. A utilização massiva de bombas de gás e bala de borracha feriram centenas de manifestantes e transformaram a Aldeota numa praça de guerra. 
     O poder judiciário também é responsável pela agressão covarde dos manifestantes. A decisão que permitiu a prisão de jovens mascarados serviu como uma carta branca para Polícia Militar agir de maneira livre e criminosa. O Ministério Público, que pediu ao poder Judiciário tal decisão, deve agora investigar e exigir a punição da conduta da polícia e do seu comandante e chefe, o governador Cid Gomes. 
     O covarde governador do Ceará insiste em se comportar como um coronel abusando de autoridade e querendo calar na marra quem se levanta contra as injustiças no nosso Estado. Porém, cassetete, bala de borracha e gás de pimenta não diminuíram a disposição de luta de jovens e trabalhadores que entraram em cena no mês de junho. Agora precisamos continuar as manifestações e exigir o Fora Cid Gomes.

Participação do PSTU no Grito dos Excluídos

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Nova edição da revista Correio Internacional será lançada em Fortaleza

Em sua 11ª edição, a publicação traz como tema de capa as mobilizações do Brasil

     "Por que o Brasil explodiu?" é a pergunta tema da edição de nº11 da Revista Correio Internacional que será lançada quinta-feira, 05 de setembro, às 19h, no auditório do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC). A revista é uma publicação da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), que no Brasil é representada pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).
     A cerimônia de lançamento da revista contará com a presença de um de seus colaboradores, o sociólogo Ronald León Nuñez. Autor do livro “Genocídio e Revolução” – que trata da história da Guerra do Paraguai –, Nuñez deve dedicar parte de sua apresentação às análises sobre outros dois países tidos como centrais para esta edição da Correio Internacional: a Turquia e o Egito, além de outros temas que também integram a publicação.
     Na ocasião, a revista será vendida a R$ 8 (oito reais). O editorial da 11ª edição da revista Correio Internacional encontra-se disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/obl7w4.

Serviço:
Lançamento da Revista Correio Internacional nº11;
Data: quinta-feira, 05 de setembro de 2013, às 19h;
Local: auditório da ADUFC. Endereço: Av. da Universidade, 2346.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Mais Médicos ou Mais SUS?


     Em meio a imensos debates sobre o programa Mais Médicos, a sociedade segue dividida. De um lado, o governo o impõe como medida salvadora; de outro, entidades médicas rejeitam, chegando até mesmo a agredirem médicos estrangeiros, em especial os cubanos. Mas o que está por trás dessa polêmica?   
     As mobilizações de junho questionaram os governos e puseram em cheque a possibilidade de reeleição da presidenta Dilma. Melhorias na saúde foram a principal exigência, ao lado de transporte e educação. Diante da perda de popularidade, Dilma lança o “Mais médicos” como uma medida desesperada para conter as manifestações.
     O programa contava com três eixos: aumento no número de vagas para cursos de medicina e residência médica; ampliação da duração do curso de 6 para 8 anos, sendo os dois últimos em serviço obrigatório no SUS; e o envio de médicos (brasileiros e estrangeiros) para periferias e interiores do país.
Essas medidas foram extremamente questionadas pelos setores que debatem saúde. Primeiro: como pensar em aumento no número de vagas nas universidades sem o aumento no financiamento para a educação? Já a o serviço obrigatório de dois anos por estudantes foi tão absurdo, que o governo retirou a proposta.

Precarização do trabalho que não vai resolver o problema
     Apesar do salário de 10 mil reais, o trabalho dos médicos brasileiros e estrangeiros será precarizado. Isso porque não terão vínculo empregatício ou direitos trabalhistas. O discurso do governo, de que basta enviar médicos para as regiões carentes do país, só serve para desviar o verdadeiro foco: a saúde púbica agoniza por falta de investimentos. Faltam materiais e medicamentos básicos, exames, estrutura física e todos os profissionais necessários. Sem isso, as condições de saúde da população não mudarão. A ideia de que o médico sozinho vai resolver os problemas, não passa de uma mentira eleitoreira.
     Não existe compromisso com a saúde da população, tanto que muitos médicos no interior estão sendo demitidos para a possível chegada dos novos profissionais pelo “Mais Médicos”. De tão mal recebido pelos profissionais, somente 11% das vagas do programa foram preenchidas. Em meio a esse fiasco, o governo brasileiro fez um “acordo” com o de Cuba para importar 4000 médicos para o Brasil.

Os Médicos vindos de Cuba: uma grande polêmica
     Em primeiro lugar, rechaçamos todo tipo de manifestações racistas, xenofóbicas e corporativistas contra os médicos cubanos. Mas não podemos deixar de fazer a discussão sobre o acordo entre Brasil e Cuba.
Para cada profissional que vier de Cuba, o governo federal entregará ao cubano 10 mil reais. Esse, por sua vez, repassará a cada médico em torno de 2.500 reais, ficando com o restante.
     Dessa forma, o governo cubano negocia a mão de obra dos trabalhadores, em troca de benefícios financeiros (lucro), funcionando semelhante a uma empresa que terceiriza os serviços. Cuba tem convênios desse tipo com 38 países, sendo a terceirização do trabalho médico precarizado, uma importante fonte de renda.

SIMEC e ato do dia 26 de agosto: uma vergonha
     Na noite de 26 de agosto, o Sindicato dos Médicos do Ceará (SIMEC) organizou um ato na Escola de Saúde Pública, onde acontecia a recepção dos médicosestrangeiros. Na saída, os cubanos foram vaiados e chamados de escravos e incompetentes pelos manifestantes, sob gritos de “voltem pras suas senzalas”.
     Solidarizamo-nos com os profissionais cubanos que vieram ao Brasil e entendemos que, nesse processo, são trabalhadores que tiveram sua força de trabalhado “negociada” para serem explorados em um país estrangeiro. Estamos, também, dispostos a defendê-los de qualquer ataque racista ou xenófobo. Ao contrário do SIMEC, defendemos a esses trabalhadores os direitos trabalhistas previstos na legislação brasileira e o recebimento integral do valor da bolsa.
     Acreditamos que a diretoria SIMEC cumpriu um verdadeiro desserviço à luta, não só dos médicos, mas de todos os trabalhadores da saúde. As atitudes do SIMEC mostraram que o centro é manter uma reserva de mercado, ou seja, capacidade que os médicos têm de negociar o valor da própria mão de obra em detrimento das outras categorias. Além disso, ajudou a aumentar o apoio ao programa, tirando o foco do verdadeiro teor negativo que ele traz. 
     Somos favoráveis a um processo de avaliação dos médicos estrangeiros, uma vez que o ensino de medicina é diferente de país para país. Se o governo não concorda com o “Revalida”, proponha outro. Mas seguimos dizendo que a luta dos movimentos de saúde deve passar pela defesa de uma saúde pública de qualidade, com aumento do financiamento, livre de toda precarização e privatização.

Por isso defendemos:
- MAIS SUS: 100% estatal, público e de qualidade, sob o controle dos trabalhadores.
- Não às privatizações por meio, das Organizações Sociais(OS), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e suas subsidiárias, como a Saúde Brasil, Fundação Estatal e outras.
- 10% do PIB para o financiamento para a saúde pública e estatal.
- Implantação de uma política de valorização do profissional do SUS, que englobe salários justos, Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) e incentivo à qualificação permanente;
- Concurso público com regime Jurídico Único;
- Fim da lei de responsabilidade fiscal;
- Pela união da classe trabalhadora internacional contra a exploração capitalista. Por um governo socialista dos trabalhadores!

Setorial de Saúde do PSTU – Regional Fortaleza

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Terminais rodoviários parados e manifestação de rua marcam dia nacional de paralisações


Camila Chaves, de Fortaleza

     Aquele que poderia ter sido um dia comum na rotina de milhares de trabalhadoras e trabalhadores cearenses transformou-se num importante dia de reflexão e manifestação de muita indignação. Além da adesão de categorias como a da construção civil e do serviço público federal, a paralisação do transporte urbano desencadeou a parada das atividades de diversas outras categorias. Em todo os terminais da cidade, assim como na rodoviária Engenheiro João Tomé, os ônibus foram parados durante o período da manhã e liberados no início da tarde. 


     De modo geral, a população mostrou-se disposta a compreender a importância do que naquele dia acontecia em todo o país: aproximavam-se dos carros de som para ouvir as intervenções, pediam materiais como panfletos e adesivos e, em alguns casos, pediam espaço para expressar apoio e indignação diante dos descasos dos governos de Roberto Cláudio e Cid Gomes (ambos PSB).
     Essas ações de paralisação foram organizadas pela CSP Conlutas (Central Sindical e Popular), com o apoio da militância do PSTU, Consulta Popular e Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (ANEL), como parte do Dia Nacional de Paralisações, convocado pelas centrais sindicais. Entidades da base da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e movimento popular se incorporaram ao ato de rua.


     Cerca de 2 mil pessoas participaram da manifestação que saiu da Praça da Bandeira, cortando ruas e avenidas até chegar à Prefeitura Municipal. Foi formada uma comissão com o objetivo de questionar o andamento da pauta de reivindicações entregue no dia 11 de julho. Contudo, alegando que o prefeito não estava presente, a Prefeitura propôs um representante para recebimento da comissão, o que não foi aceito pelos manifestantes. 
     Tendo parado as ruas e a produção, para nós do PSTU o 30 de agosto serviu para reforçar que não deve haver nenhuma confiança nos governos municipal, estadual e federal e que, principalmente, segue a disposição de luta da juventude e dos trabalhadores. Em Fortaleza, as entidades que participaram do dia de lutas agora se preparam para organizar ações unificadas para o 7 de setembro, quando acontece em todo o país o Grito dos Excluídos. Eis o próximo passo.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Iludir os estudantes ou construir uma nova direção? | Uma polêmica com o PSOL


O Brasil mudou, sua situação política mudou e o que parecia muito distante até então veio com uma força acelerada e fulminante. As mobilizações que aconteceram em junho deste ano já marcam a história das lutas em nosso país. A transformação na consciência do jovem brasileiro – que passou de uma condição passiva da política para uma não só ativa, mas cotidiana – permanecerá por muito tempo e não voltará para o mesmo nível do que era antes de junho. Quase dois meses após a semana em que dois milhões de pessoas foram às ruas em todo país, e um mês após a grande mobilização da classe trabalhadora no 11 de julho, ainda vemos várias manifestações da juventude, como as ocupações das câmaras e atos com as mais diversas pautas. Isso mostra toda a indignação do jovem brasileiro.
Porém, para nós marxistas-leninistas, não basta contemplar o momento único que a história nos proporciona, é preciso ao máximo estudar a realidade sob a luz do método marxista para melhor compreendê-la e com isso avançarmos em nossas intervenções cotidianas. Isso significa que precisamos rever nossas posições políticas, ter sensibilidade para entendermos que uma alteração na situação política de um país exige uma alteração na política que vamos propor ao conjunto de ativistas e manifestantes, que as palavras de ordem antes puxadas já não surtem mais efeito, pois não estão adequadas para esse momento que passamos e que precisamos avaliar nossas antigas posições para não nos colocarmos como um empecilho para a transformação da sociedade. 
Queremos aqui fazer uma polêmica fraterna com os camaradas do PSOL e sua principal política no movimento estudantil, a permanência na União Nacional dos Estudantes (UNE) a partir da composição da Oposição de Esquerda.

A verdadeira legitimidade da UNE na juventude brasileira


É de conhecimento de uma parte dos ativistas e militantes do movimento estudantil brasileiro a recusa do PSOL em construir a Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (ANEL), entidade estudantil surgida em 2009 com o intuito de se contrapor à política governista da UNE a partir de uma série de princípios que vão desde a independência financeira até a aliança operário-estudantil, princípios estes que não existem na UNE.
Um dos principais argumentos utilizados pelos camaradas é a legitimidade que a UNE possui no conjunto dos estudantes brasileiros, o que justificaria a necessidade de participar dos fóruns da UNE, legitimá-los a partir da tiragem de delegados para seus espaços (como o que aconteceu recentemente para o CONUNE), e disputar cargos de direção da entidade.
O CSOL – corrente interna do PSOL que constrói o coletivo Rompendo Amarras – afirma em um de seus documentos que “O Conune, maior espaço da entidade, costuma juntar aproximadamente 4 mil delegad@s e 8 mil estudantes no total. A tiragem de delegad@s por universidade, tendo quorum mínimo de 5 % do total de estudantes matriculados, significaria que aproximadamente 4 milhões de estudantes estariam “representad@s”. A expectativa da oposição de esquerda da UNE é de ter aproximadamente 400 delegad@s, sendo 400 mil “representad@s”[1]. Já o MES –  outra corrente interna do PSOL que constrói o coletivo Juntos – também se ancora no argumento da legitimidade da UNE entre a maioria dos estudantes brasileiros, e esta fala se confirma quando, no vídeo de chamado ao 53º CONUNE, uma das principais figuras públicas deste coletivo é o responsável por sustentar tal argumento. [2]
Na lógica dos companheiros e companheiras do PSOL, uma vez que existe uma maioria esmagadora dos estudantes que legitimam e se sentem representados pela UNE, não é suficiente disputá-los diretamente em suas escolas e universidades, não são suficientes as ações clássicas do movimento estudantil, como passagens em salas e panfletagens nos Restaurantes Universitários. Não, a disputa só se tornaria completa quando participamos de todos os fóruns da UNE; só se tornaria completa quando tirássemos delegados para poder intervir com mais “qualidade” nos espaços; só se tornaria completa quando para “negá-la”, precisássemos afirmá-la ainda mais e numa proporção muito maior do que nossa suposta negação.
Mesmo esse argumento por si só não sendo válido, a pergunta que precisamos fazer é: seria a UNE tão legítima e representativa para o jovem brasileiro como afirma o PSOL? Nas jornadas de junho, na semana entre 17 e 23, saíram às ruas mais de 2 milhões de pessoas em todo o Brasil, em sua maioria divididos em alguns grupos de secundaristas, universitários, e por fim (e provavelmente o grupo mais volumoso) jovens com empregos precarizados, que trabalham de dia para pagar o seu estudo, em uma universidade particular, à noite.
Façamos um pequeno cálculo matemático agora: o PSOL afirma que milhões de estudantes (e, portanto milhões de jovens) legitimam e se sentem representados pela UNE, e a realidade nos mostra que milhões de jovens foram às ruas em junho. Não seria absurdo dizer que entre esses dois conjuntos (1. número de jovens que legitimam a UNE e 2. número de jovens que foram às ruas) há uma generosa intersecção de pelo menos alguns milhares de estudantes. Por que não se via jovens saírem de suas casas enrolados na famosa bandeira azul da entidade? E mais, por que nas mobilizações em todo o país esses jovens mandaram baixar as bandeiras da entidade que supostamente eles legitimam e se sentem representados?
A resposta não pode ser outra, e não é: a verdade é que a UNE não representa a juventude que saiu às ruas; que a UNE que foi protagonista nas lutas do passado já não existe mais; e que essa juventude que está disposta a se chocar contra todas as formas de governos, só conhece a UNE a partir das fotos e a associa com o que há de pior na política brasileira e pelos regulares ataques que ela faz aos direitos estudantis. Quem legitima a UNE não é o estudante brasileiro, isso ficou muito claro em junho, quem na verdade a legitima é a política da Oposição de Esquerda que quer convencer os estudantes que disputar a UNE ainda vale a pena.
Antes que os camaradas queiram rebater com argumentos de que “a bandeira da ANEL também foi obrigada a ser baixada nos atos”, dizemos com toda sinceridade que infelizmente isso é verdade. Trata-se também de um reflexo da experiência feita por esses jovens que ao longo de 10 anos, não tiveram a UNE como entidade que estivesse em sua defesa, mas sim na defesa das políticas do governo. Além disso, a grande maioria dos jovens brasileiros ainda não perceberam a justeza de construir uma nova entidade estudantil anti-governista que esteja a serviço da luta da juventude e da classe trabalhadora. Porém, esse dia chegará e a juventude que hoje se coloca em movimento construirá sua nova direção e nós acreditamos firmemente que a ANEL contribuirá com este projeto. Dito isso, seria desonesto comparar uma entidade histórica de mais de 70 anos, com uma entidade com 4 anos. Não seria uma análise séria desconsiderar que a falência da UNE na tarefa de defender os interesses da juventude brasileira afeta a consciência desses jovens de um modo a negar qualquer tipo de organização.

Existe uma esquerdização por parte da UNE?


Segundo León Trotsky, revolucionário russo, uma das características de uma situação revolucionária é a esquerdização da classe média ou pequeno-burguesia, ou seja, quando a classe média de um determinado país apoia massivamente a tomada do poder pelo proletariado. Apesar de não haver uma situação revolucionária no país, é possível afirmar, a partir do apoio massivo da população e de sua participação nas manifestações, que há uma esquerdização da classe média no Brasil, e que parte dos jovens brasileiros estão nesse processo.
A esquerdização de uma ampla parcela da sociedade é algo fundamental para o avanço das lutas, não só pelo fato de se colocar em movimento um amplo setor, mas também porque pressiona as centrais sindicais burocratas a também se colocarem em movimento: uma base “esquerdizada” pressiona uma esquerdização por parte da sua direção.
Duas das maiores centrais sindicais do Brasil, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical, ambas burocráticas e governistas, foram pressionadas por suas bases a aderirem às paralisações do dia 11 de julho. É fato que elas não queriam participar das manifestações; é fato que o PT, partido que dirige a CUT, não queria sua participação. Porém, a pressão das massas fez com que elas participassem, fazendo com que o dia 11 fosse uma das maiores paralisações da história do movimento sindical brasileiro. Negar isso, como faz o PSOL, é negar uma forma de organização da classe, suas direções, seu nível de consciência e seus métodos de luta.
A pergunta aqui, no entanto, é: o que aconteceu com a CUT e a Força Sindical também aconteceu com a maior burocracia do movimento estudantil? Ou seja, a juventude saindo às ruas pressionou a UNE a sair também? Fez com que essa entidade adotasse um discurso e uma política mais à esquerda do que vinha fazendo no passado?
A resposta é “não”! Tal fato não aconteceu e o próprio CSOL confirma isso, em suas conclusões sobre a primeira reunião da diretoria plena da UNE, da qual o PSOL faz parte. Eles afirmam já nas primeiras linhas: “Não houve nenhuma grande novidade na forma de condução do espaço da UNE pela UJS e o restante da diretoria majoritária. Não houve nenhuma grande surpresa na defesa quase que irredutível ao Governo Federal Petista, provando que a tão importante autonomia dos movimentos sociais passa longe da UNE há anos”.[3]
Isso significa que mesmo com uma mobilização de massas, majoritariamente de juventude, com pautas como 10% do PIB pra educação pública já, Passe Livre já, 10% do PIB pra saúde púbica já, a direção atual continua defendendo o governo do PT e não se sente pressionada a ouvir a voz dos estudantes quem vem das ruas e muito menos defender seus interesses. Mais explícito ainda da falta de compromisso com a juventude brasileira e da não “esquerdização” por parte da UNE é a aprovação do Estatuto da Juventude, um ataque ao direito estudantil da meia entrada. 
Tal elemento não é secundário e não pode ser ignorado pelos militantes do movimento estudantil, pois caso houvesse uma esquerdização da UNE seria tático discutir se era correto ou não impulsioná-la e a melhor maneira de fazê-lo, fosse por dentro ou por fora da entidade. Porém, uma vez que a UNE não foi legitimada durante as jornadas de junho, e que ela não se sente nem um pouco pressionada em defender os interesses dos estudantes, é possível afirmar que não aconteceu nenhuma virada à esquerda por parte da UNE, e mais, que ela está se consolidando cada vez mais como o braço do governo no movimento estudantil. Por isso, fazemos uma pergunta honesta aos camaradas, o que vocês querem e esperam da União Nacional dos Estudantes?

Negar o velho e construir uma nova direção


Nesse primeiro momento de mobilização, em que, mesmo havendo um alto salto na consciência dos brasileiros e brasileiras, este ainda não representa um ruptura completa com a sociedade atual. É normal que os milhões de manifestantes que se colocaram em movimento achem mais fácil negar a velha forma de fazer política e suas instituições do que propor o novo.
O fato de a UNE não construir as lutas nos últimos 20 anos não traz apenas uma consequência objetiva – uma série de derrotas ao movimento estudantil e à juventude brasileira –, mas também um elemento subjetivo: 20 anos sem lutas significa um atraso na consciência do jovem que agora se manifesta na desconfiança por eles com as centrais sindicais, partidos políticos e entidades estudantis. 
O que os camaradas do PSOL não compreendem, é que parabenizar e enaltecer essa negação por si só é um erro. Quando os camaradas negam o 11 de julho por completo, não diferenciando as centrais que estão apenas contribuindo para o retrocesso da consciência da juventude, nossa verdadeira tarefa é elevar a consciência deles, mostrando que, se é certo que negar PT, CUT, UNE e outras centrais sindicais, também é certo explicar pacientemente para esses novos camaradas que estão se formando nessas mobilizações que é necessário construir uma outra direção, controlada pela base, que seja capaz de conduzir a juventude junto com a classe trabalhadora a uma vitória contra esse regime.
Ao não propor isso, e ainda mais, ao continuar legitimando uma entidade como a UNE, os camaradas falham na tarefa mais importante: a de mostrar aos jovens e trabalhadores brasileiros que eles são senhores do seu próprio destino, que eles podem e devem romper com a lógica da sociedade atual e construir uma nova sociedade onde não haja nenhuma forma de exploração, e que isso não vai cair do céu, mas apenas com uma luta consciente e organizada, luta esta que exige uma forma sólida de organização.
Nós da juventude do PSTU, continuaremos nessa perspectiva, a de explicar pacientemente para todos os jovens militantes, camaradas valorosos, que hoje andam lado a lado conosco nas manifestações em todo o Brasil, a necessidade de construir organismos da classe, pela classe e a serviço da classe, para que possamos elevar a qualidade de nossa luta. Nesse sentido, continuaremos a apresentar a ANEL, única entidade estudantil anti-governista capaz de ser o embrião de uma organização muito mais poderosa. A todos que hoje participam das manifestações, é preciso parar de iludir os jovens com o velho, é preciso construir o novo!

Por Guilherme Barbosa, da juventude de FORTALEZA

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